Ricardo Hofstetter é o autor de grande parte das histórias de
Malhação. Foi ele quem criou personagens, elaborou tramas, fez rir e chorar com festas, despedidas e, a cada nova temporada, lá estava ele, prontinho para mudar tudo e começar um novo ano. Desde a época da academia, Ricardo já assinava os textos da novela e, ainda hoje, é responsável pela redação final dos capítulos que invadem milhares de casas de segunda à sexta.
Em 24 de abril de 2005,
Malhação completava 10 anos no ar. Foram dezenas de personagens, casais protagonistas, tramas paralelas emocionantes e muito, mas muito sucesso mesmo. Ou será que alguém consegue tirar da cabeça o judoca Dado e sua amada Luiza? E de Tati e Touro, Nanda e Gui, Héricles e Isabella, Pedro e Júlia, Alice e Bruno, você não lembra? Sem contar com os inesquecíveis
Cabeção, Mocotó, Romão, a
Vagabanda... Parece que foi ontem!
E ninguém mais preparado que
Ricardo Hosfstetter para dar uma geral na nossa memória e relembrar os melhores momentos, as fases mais legais, os personagens de destaque, as inspirações para as sinopses e algumas curiosidades da novela. Em entrevista exclusiva, o autor mata a nossa saudade e revela suas preferências durante os
10 anos de Malhação, num delicioso ping-pong.
Como foi seu ingresso na Malhação?
Foi ainda na época da Academia. O coordenador de texto era o Charles Peixoto. Fui indicado e ele gostou das minhas cenas. Fui ficando, entre idas e vindas...
Você se lembra qual foi a primeira cena que escreveu para a novela?
Não, o Bagaço e o Bagaceira, os dois últimos neurônios que me restam, estão brigados faz mais de ano...
Durante esse tempo, quais foram os momentos mais marcantes, as cenas mais bacanas?
A história da AIDS da Érica foi forte. O transplante de coração do avô de Júlia também. O acampamento em Vila Verde, com a história do desvio da grana da merenda escolar, quando Gustavo e Letícia trocaram o primeiro beijo foi muito legal. A fã doida que tentou matar Letícia e nos deu o maior ibope de nossa história (média de 42 pontos com pico de 49, números de novela das oito). O Cadu trabalhando no sinal de trânsito, vestido de Frangão, foi hilário. Nossa, foram muitas histórias! O Cabeção vestido de gueixa para conquistar Miyuki, o câncer de próstata de José, a história sobre bullying... Foi bom demais poder escrever tudo isso!
Qual foi a temporada mais legal?
Sem dúvida foi a última, com Gustavo e Letícia e a Vagabanda. Acho que foi a temporada mais próxima do universo adolescente, com a coisa da música, diferenças entre pobres e ricos, o tema Justiça, que é muito instigante...
Dos casais protagonistas, qual te marcou mais?
Todos os casais foram muito bons, mas gostei muito do Gustavo e da Letícia, seguidos de perto por Tati e Rodrigo.
Você sempre conta com a colaboração de outros autores para escrever Malhação. Do que você não abre mão de fazer nessa rotina?
Sou muito detalhista e exigente, mexo muito em todas as etapas do processo e nunca abro mão da redação final.
Quando escreve uma sinopse ou elabora o perfil de um personagem, o que te inspira?
Tudo. Notícias de jornal, histórias contadas por amigos, coisas vividas, sugestões dos colaboradores, dos pesquisadores,a imaginação...
Sempre ouvimos que Malhação não é um programa para jovens, e sim, um programa sobre os jovens. Quais os ingredientes desta “receita”?
Quer que eu entregue o ouro para a concorrência? Nem pensar! Mas algumas coisas dá pra falar: levar tudo muito a sério e trabalhar feito doido. E contar com uma equipe talentosa e sempre disposta a pegar no pesado para fazer o melhor. Seria difícil ter o sucesso que temos sem os diretores, produtores, figurinistas, cenógrafos, continuístas, pesquisadores, autores-colaboradores, os câmeras, o pessoal da arte, maquiadores, cabeleireiros e toda a galera da técnica que temos. Malhação é uma família. Quem entra não quer sair mais...
Depois de tanto tempo nesta equipe, qual o balanço que você faz: o que melhorou, o que mudou, o que evoluiu de maneira fundamental para este sucesso?
Vou falar mais da fase Múltipla Escolha, pois a fase academia eu participei pouco. Eu acho que os personagens, especialmente os protagonistas, foram, aos poucos, se tornando mais humanos, com defeitos e qualidades. No início eles eram seres quase perfeitos. Isso trouxe o programa mais para perto ainda do público. Outra coisa que mudou foi a produção e a direção do programa, que se aprimoraram muito. Hoje eles são capazes de gravar coisas inimagináveis nas primeiras fases.
Malhação tem fãs de todas as idades, é assistida em vários países do mundo e já faz parte da história de cada um de nós. Como autor, você tem a função de passar mensagens, educar, além de entreter, através das tramas. Agora, é hora de falar diretamente com o público: que recado você gostaria de dar para estas milhares de pessoas?
Conhecimento e informação é tudo de bom! Para os mais jovens, recomendo estudo, muito estudo. Pode não fazer muito sentido no início, mas mais tarde vem a compensação. E para os mais experientes, estudo, muito estudo. Parar de aprender é a morte.